Baseado nos escritos da Serva de Deus Luísa Piccarreta, o Rogacionista Diácono César Arango explica que a pergunta “Qual será a Vontade de Deus?” desaparece quando se compreende que a Divina Vontade é o centro de tudo. “O quanto se enxerga e reconhece que a Divina Vontade está dentro e fora de cada um? E o quanto se entende que Deus é tudo em todos?”
Estas são perguntas fundamentais para se chegar à compreensão que nada está fora de Deus. A partir de então, melhor entende-se que à medida que se morre para a própria vontade mais se enxerga a Vontade de Deus; e, encontrando-A, reconhecendo-A, podemos fazê-La e deixá-La reinar.
Podcast: “Qual será a vontade de Deus?” – Padre Cesar A. Arango, RCJ
Volume 13, 26 de julho de 1921 O Querer Divino é mais do que a vida da alma
“Minha filha, se o sol é o rei do Universo, se com a sua luz simboliza a minha Majestade e com seu calor o meu Amor e a minha Justiça, ao ponto de quando encontra a terra que não quer se prestar à sua fecundidade, com seu sopro ardente acaba de secá-la e a torna estéril, pode-se dizer que a água é rainha da terra, pois, simbolizando a minha Vontade, não há ponto em que não entre, nem há criatura que possa existir sem Ela. Talvez sem o sol se possa viver, mas sem a água, ninguém. A água entra em tudo, até nas veias, nas vísceras humanas, assim como nas profundezas da terra. Ela, em mudo silêncio, segue seu curso contínuo. Pode-se dizer que a água não só é rainha, mas é como a alma da terra: sem água a terra seria como um corpo morto.
Tal é minha Vontade: não é apenas rainha, mas é mais do que a alma de todas as coisas criadas. A Minha Vontade é a vida de cada batimento, de cada fibra do coração.
Meu Querer, como água, flui em tudo, ora silenciosa e escondida, ora palpitante e visível. O homem pode subtrair-se da minha Luz, do meu Amor, da minha Graça, mas de minha Vontade jamais. Seria como quem quisesse viver sem água. É verdade que pode haver alguém louco que não goste da água; mas mesmo que a odeie, e não a ame, será forçado a bebê-la – ou a água ou a morte. Assim é minha Vontade: sendo vida de tudo, as criaturas ou A terão com elas, com amor ou com ódio, mas, ainda assim, contra a sua vontade, serão obrigadas a deixar minha Vontade correr nelas, como sangue nas veias. E quem quisesse escapar-se de meu Querer seria como suicidar a própria alma; mas meu Querer nem assim as deixaria, seguiria sobre elas o curso da Justiça, não tendo podido seguir sobre elas o curso dos bens que contém meu Querer.
Se o homem soubesse o que significa fazer ou não fazer minha Vontade, todos estremeceriam de medo só de pensar em subtrair-se por um só instante de minha Vontade”.
Volumem 19, 1º de Maio de 1926 – Quem vive no Querer Divino é alimentado pelo Sopro Divino, e quem não vive nele é um intruso, um usurpador dos bens de Deus, e recebe bens por meio de esmolas.
“A Minha Vontade é um movimento contínuo, não se detém jamais, se Seu movimento se pudesse deter, o que não pode ser, cessaria toda a vida da Criação – do sol, do céu estrelado, das plantas, da água, do fogo, as criaturas todas descenderiam do nada. Por isso, a minha Vontade com Seu movimento contínuo é vida de cada coisa criada, vincula tudo, é mais que o ar que com seu respiro faz respirar, desenvolver, crescer todas as coisas saídas de Nossas mãos. Vês, então, que afronta é feita pelas criaturas, pois, enquanto a Minha Vontade é vida de tudo e é o centro de cada coisa, e sem Ela nada poderia existir, nem o mínimo bem, elas não querem reconhecer nem Seu domínio nem Sua Vida que corre nelas. Eis por que quem reconhece a vida de minha Vontade nela e em todas as coisas, é o triunfo de Nossa Vontade e a conquista de Nossas vitórias, é a correspondência de Nosso Amor a Nosso movimento contínuo, a Nossa Vontade vincula a alma a toda a Criação, fazendo-lhe fazer todo o bem que faz a Minha própria Vontade em tudo.
De maneira que tudo é seu, e Eu a amo tanto que não sei fazer nada sem ela, porque em virtude da Minha Vontade temos a mesma vida, o mesmo amor, o mesmo batimento e o mesmo respiro”. (19:23)
Volume 17, 6 de outubro de 1924 – A Divina Vontade é o pulsar primário da alma, e de todas as coisas criadas.
“Em todas as coisas criadas a Minha Vontade tem Seu lugar primário e circula em tudo como o batimento da vida, desde a menor coisa criada até à maior, nada pode separar-se da potência e imensidão da Minha Vontade. Ela Se faz vida do céu azul e mantém em Si sempre novo e vívido a cor celestial, e não pode descolorir-se, nem mudar, nem perder o brilho, porque a Minha Vontade assim determinou que fosse, e uma vez estabelecido por Minha Vontade, o céu não muda. A Minha Vontade é vida da luz e do calor do sol, e com o Seu palpitar de vida conserva sempre iguais e vivos a luz e o calor do sol, e o mantém imóvel na Minha Vontade, sem separar-se jamais, nem cresce nem decresce no bem que deve fazer a toda a terra.
Minha Vontade é a vida do mar, e ela forma o murmúrio das águas, o tremeluzir dos peixes, as ondas barulhentas.
A Minha Vontade é a vida do mar e nele forma o murmúrio contínuo nas águas, nas ondas, no nado dos peixes. Oh! como a Minha Vontade se encontra potente e faz gala da sua potência que contém e desenvolve a Sua Vida com tanta majestade e absoluto domínio em todas as coisas criadas, que nem o mar pode deixar de murmurar, nem o peixe de nadar; aliás, poderia se dizer que é a Minha Vontade que nada e murmura no mar, a Minha vontade é que nada no peixe, a Minha Vontade que forma as ondas e com Seu ruído faz ouvir que aí está a Sua Vida e que pode fazer tudo como Ela quer e gosta.
A Minha Vontade é o palpitar e vida no pássaro que trina, no cordeiro que bale, na rola que geme, nas plantas que vegetam, no ar que todos respiram, enfim, em tudo a Minha Vontade tem Sua Vida e forma com Sua potência, o ato que Ela quer, de modo que Ela sustenta a harmonia em todas as coisas criadas e forma nelas os diversos efeitos, cores, ofícios que cada uma contém. Mas sabes para quê? Para Me fazer conhecer pela criatura, para ir através da Criação à criatura, para cortejá-la, para amá-la com tantos atos diversos da Minha Vontade por quantas coisas criei. Meu Amor não ficou contente em colocar no fundo da alma a Minha Vontade como batimento de sua vida, mas quis pôr a Minha Vontade em todas as coisas criadas, para que, mesmo fora delas, a Minha Vontade não a deixasse jamais, e assim, pudesse conservar-se e crescer na santidade da Minha própria Vontade, e todas as coisas criadas lhe fossem de incentivo, de exemplo, de voz e de chamada contínua, para fazê-la sempre correr no cumprimento da Minha Vontade, finalidade única para a qual foi criada. Mas as criaturas se fazem surdas às tantas vozes da Criação, cegas diante de tantos exemplos; e se abrem os olhos, os fixam somente em sua própria vontade, que dor! Por isso te recomendo que não queiras jamais sair da Minha Vontade se não queres multiplicar a Minha dor e perder a finalidade para a qual foste criada”.(25:54)
Volume 32, 13 de agosto de 1933 – Delírio e paixão da Divina Vontade por querer viver junto com a criatura.
Estou sempre voltando aos braços da Divina Vontade, parece que Ela suspira ao ter-me sempre com Ela e em dar-me a Sua Vida contínua, e eu suspiro por recebê-La. Sem Ela sentiria faltar a terra sob o meus pés, o batimento do meu coração, e sofreria uma fome infinita, sem que qualquer outra coisa me pudesse dar nem sequer uma migalha para saciar a fome. Ó Vontade Divina, vivamos juntas se queres fazer-me feliz, e assim possas encontrar em mim a felicidade de Tua própria Vida.
Mas enquanto minha a mente se perdia no Fiat, meu amado Jesus, fazendo-me sua breve visita, me disse:
“Minha filha bendita, poderia se dizer que é um delírio, uma paixão divina de Minha Vontade, que quer fazer vida junto com a criatura, cedendo a Sua Vida para ter a pequenez humana, mas, sabes por quê? Tu deves saber que Meu Querer Divino tem sempre pronto um ato novo para dar à criatura, mas se a criatura não vive junto, não se habitua a fazer seus atos unidos com Meu Querer para formar deles um só ato, Eu não posso dar, primeiro porque não seria digna de recebê-lo, segundo porque não entenderia o valor do grande dom que recebe, e não teria virtude de absorvê-lo em si como vida própria. Ao viver com minha Divina Vontade se adquire nova vida, modos divinos, ciência celestial, penetração nas coisas mais profundas. Em suma, como Meu Fiat é o Maestro dos maestros e aquele que cria com a ciência mais elevada faz conhecer as coisas não desveladas, senão como são na realidade; portanto, vivendo junto com a criatura não a quer ter ignorante, a instrui, lhe faz suas surpresas, lhe conta Sua história divina, isto é, transforma-a e torna-a capaz de receber o Seu ato novo que o Meu Querer quer dar-lhe, e a alma, em cada ato que faz unida a Ela, adquire uma nova prerrogativa de semelhança divina.
Ao viver junto com o Meu Querer a alma se enriquece, se embeleza, e se torna em Nossas mãos criadoras como a tela adequada nas mãos do pintor, que quanto mais bela, mais delicada é a tela, mais bela fica a imagem que quer pintar sobre essa tela, parece que seus pincéis e suas cores adquirem mais arte, porque colocam ao vivo as cores sobre uma tela finíssima. Assim, a tela se transforma em imagem, que dando com vivas cores adquire tal valor, de tornar-se admirada por todos aqueles que a enxergam.
Agora, mais do que um pintor divino é a Minha Vontade, e não se cansa jamais de dar novas belezas, santidade e ciências novas, e está esperando um ato feito junto com a criatura para enriquecê-la, para fazer-se conhecer demais e fazer uso de Seus pincéis divinos, para elevá-la a tal altura e especial beleza, até fazê-la admirar quem sabe por quantas gerações, de modo que todas a chamarão bem-aventurada, e quem tem o bem de olhá-la se sentirá feliz; todos os atos novos recebidos de Deus, em virtude de terem sido feitos em Meu Querer, a louvarão e a exaltarão, a farão conhecer como a obra mais bela do Meu Fiat Divino. O querer abaixar-Se para viver com a criatura, Seu delírio divino, é sinal de que quer fazer coisas grandes na criatura e dignas de Sua potência criadora, por isso viver junto com Meu Fiat é a maior fortuna, e deveria ser o delírio, a paixão veemente e a ambição de todos”.
Depois disto ouvia em mim e fora de mim o mar murmurante do Fiat Divino. Oh, como é doce, suave seu murmúrio, murmura e fala, murmura e acaricia a sua amada criatura, murmura e a beija, e estreitando-a entre Seus braços, lhe diz: “Te amo” e pede amor. Não há coisa mais bela, mais agradável, que um Querer tão Santo diga: “Te amo”, e pede, por correspondência, o pequeno amor da criatura. E eu me sentia fundir-me neste murmúrio divino como vida em todo meu ser, e meu doce Jesus acrescentou:
“Minha filha, queres saber o que significa fazer e viver na Minha Divina Vontade? É conhecer onde se encontra, com quem tem que fazer, o que pode receber, não esquecer o bem que se tem recebido. São todos esses sinais de que a alma vive em Minha Divina Vontade, porque dizer que vive n’Ela e não conhecer onde se encontra a sua morada divina que se presta para fazer-se de habitação da criatura, seria não apreciar, porque as coisas, as pessoas, os lugares quando não se conhecem, não se apreciam. Dizer: vivo no Querer Divino e não saber o que significa, é absurdo, e se não O conhece não é uma realidade, mas um simples modo de dizer, enquanto a primeira coisa que faz a Minha Vontade é revelar-Se, fazer-se conhecer a quem vive e quer viver junto com Ela. Portanto, conhecendo onde Se encontra, conhece o que tem a ver com Ela, com um Querer tão Santo, que quer tudo para lhe dar tudo. Deste modo se põe em ato de receber Sua santidade, Sua luz, e se põe em ato de viver os bens d’Aquele que se convive, porque conhecendo-O não sente mais o desejo de abaixar-se a viver de uma vontade humana, ainda mais quando essa vontade pois já não é sua.
Com este conhecimento a criatura adquire ouvido para escutá-La, voz para falar d’Ele, a mente para compreendê-La, a confiança em modo divino para pedir tudo e receber tudo, assim que não ignora todos os bens que possui, antes, é toda olhos para guardar os bens que possui, e agradece Àquele que tanto se abaixou para viver com ela.
Agora, se alguém ler estas linhas que te fiz escrever e não compreender o que está escrito, e coloque em dúvida estas verdades tão sacrossantas e até onde pode chegar a viver a criatura no meu Querer, é sinal certo que não vive na Minha Vontade, que não tem como princípio Minha Vontade. É sinal certo que não Me conhece. Como A pode compreender se não tem em si esta Vida tão Santa, se não provou jamais Suas delícias, se não escutou jamais Suas belas lições, se seu paladar nunca provou este alimento celestial que sabe dar Minha Vontade? Por isso ignoram o que sabe fazer e dar o Meu Fiat, e se O ignoram, como podem compreendê-Lo?
Quando não se conhece um bem, não se se sente, ao menos, a mínima disposição de querê-Lo, de fazê-lo crescer, leva à cegueira da mente e a dureza do coração, e se pode chegar até a desprezar aquele bem. Para quem o conhece e o possui, forma sua fortuna e sua glória, e daria sua vida humana para possuir a Vida do Meu Fiat e Seus bens que tem conhecido, e conhecendo-O é todo ouvidos para escutá-Lo, é todo olhos para olhá-lo, é todo coração para amá-Lo, é todo língua para falar d’Ele; aliás, gostaria de ter quem sabe quantas línguas para dizer o bem que conhece, as prerrogativas d’Aquele que possui como vida, porque a sua não lhe basta para poder dizer tudo o que conhece.
Por isso quando quero dar um bem, um dom, especialmente o grande Dom de minha Vontade como vida na criatura, a primeira coisa que faço é fazê-la conhecer. Não quero dar a luz e colocá-la em lugar escondido como se não a tivesse, nem meus dons para escondê-los e como para enterrá-los nela, em que aproveitaria dá-los? E se não os conhece, como poderia a pobre criatura Me corresponder, amá-los e apreciá-los? Se dou este dom é porque quero que façamos vida juntos e unidos desfrutemos o bem que lhe dei. De fato, o teu Jesus se coloca de vigilante, de sentinela para guardar o que dei à minha amada criatura. Assim, conhecer significa possuir, possuir significa conhecer, para quem não conhece, as verdades tornam-se difíceis e sem vida. Portanto, sê atenta e desfrute do que teu Jesus quis dar-te e fazer-te conhecer”.